quarta-feira, 8 de junho de 2022

Revolta dos Búzios


 Revolta dos Búzios; também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, é um importante evento na construção das lutas populares do nosso estado que a FAQUIR decide rememorar hoje (na primeira de algumas publicação) em preparação às comemorações do 2 de Julho, dia da independência do Brasil na Bahia.


Ao longo do século 18 o mundo experienciou levantes populares, especialmente nas Américas com seus territórios marcados pelo sangue de indígenas e pessoas escravizadas trazidas de África. Hoje nós da FAQUIR lembramos daqueles que, movidos pela solidariedade revolucionária que une os povos explorados, engajaram-se em lutas de libertação que gradativamente pavimentaram a estrada da nossa libertação da violência colonizadora europeia.

Desde 1798 até os dias de hoje São Salvador da Baía de Todos os Santos, cidade escancaradamente segredada em meio à miséria e à violência propositais, vem acumulando dores e lágrimas entre as marés revoltosas daqueles que se encontram encurralados pela dura realidade colonial erigida sobre a política de extermínio da população preta. Cidade que arde como arde lentamente como carvão que aquece nossa comida e insiste em queimar até sua última brasa, impregnada com os odores do descaso que nos fazem nausear, cidade esculpida pela mão de trabalhadores em sua esmagadora maioria negros desde que foi imposta no território ocupado que hoje é conhecido como Brasil.


Pois foi nessa cidade, marcada pelo salitre que assalta os corpos e as paredes, que no dia 12 de agosto de 1798 o sol iluminou 12 boletins que traziam a tinta as palavras de ordem; “Animai-vos povo bahiense, que está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade; o tempo em que todos seremos irmãos; o tempo em que todos seremos iguais”.

Mesmo com o alvoroço não se escutou um único disparo vindo destes revoltosos que anunciavam a boa nova, as chamas não precisaram tomar conta da cidade pois estas palavras por si só foram capazes de incendiar a história, O calor e o brilho dos sussurros que corriam por todos os cantos fizeram com que a autoridade vigente corressem para reprimir com urgência a “onda negra” que ameaçava dar fim aos privilégios da elite branca local.

O boletim Aviso n° 9, declarava que eram 676 membros ativos na luta, as investigações começaram no mesmo dia; foi preso um suspeito de produzir os boletins e 10 dias depois, dois novos panfletos com o mesmo estilo dos outros apreendidos amanheceram pregados às portas do convento do Carmo. As investigações levaram para o lado dos tais subversivos o soldado Luís Gonzaga das Virgens, já então conhecido pelos militares por ter desertado três vezes, revoltado com as discriminações contra seu povo por parte do exército e da estrutural social de seu tempo.


No dia 25 de agosto, após a prisão do Revolto Luís Gonzaga, uma reunião realizada no Campo do Dique do Desterro foi palco de uma cruel armadilha; contou com a presença do aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira que levou consigo mais cinco pessoas, dentre eles quatro escravizados ativos nas lutas baianas do período. João de Deus do Nascimento, mestre alfaiate e dono de uma alfaiataria, foi outro presente na reunião levando mais seis revoltos (entre eles soldados rebelados, alfaiates, um ferreiro, um cabeleireiro e dois escravizados, sendo um deles africano). O soldado Lucas Dantas de Amorim Torres, que deu a notícia da prisão de Luís Gonzaga, também participou da reunião trazendo consigo um colega de serviço.

A reunião foi denunciada por três participante na manhã seguinte e desse dia até o começo do ano de 1799 ocorreram ao todo 41 prisões. O príncipe Dom João em novembro de 1798 enviou uma carta régia exigindo as mais severas punições aos envolvidos e, mesmo com os embargos colocados pelo advogado de defesa dos réus, em 5 de novembro de 1799 o Tribunal da Relação decidiu por unanimidade condenar a todos os envolvidos pelo crime de lutarem pela sua própria dignidade e por uma sociedade mais justa.


Manoel Faustino, Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus e Lucas Dantas foram condenados à morte por enforcamento (sendo logo em seguida esquartejados como parte da macabra punição) no dia 8 de novembro daquele mesmo ano na Praça da Piedade. Outros 28 homens tiveram as mais variadas penas como serem degredados na costa ocidental da África fora dos domínios portugueses, exilados em Fernando de Noronha, ou prisões de 5 a 10 anos em Angola bem como de 6 meses em território brasileiro para alguns. No caso de pessoas escravizadas estas receberam 500 chibatadas no pelourinho e foram posteriormente vendidos para fora da Bahia – pois estavam antes submetidos à condição objetificada de mercadoria que a de seres humanos criminalmente imputáveis.

Ao todo, junto a Manoel Faustino, Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus e Lucas Dantas, foram condenados: 11 escravizados, 6 soldados, 5 alfaiates, 3 oficiais militares, 2 ourives, 1 comerciante, 1 professor, 1 cirurgião e 1 carpinteiro.


APAREÇA E NÃO SE ESCONDA!!! Não se esconda perante os carrascos, perante as forças de coerção que nos expulsam para as sarjetas e impedem a ascensão da classe trabalhadora unida. Jamais esqueça dos rostos e nomes que lutaram pela emancipação dos povos, pagando com o preço da vida a construção de um futuro digno livre da brutalidade imperialista e de qualquer outra forma de exploração do homem pelo homem.


“Mas eu o tentarei, pois o importante é tentar, mesmo o impossível” - Jorge Amado


PAZ ENTRE NÓS, GUERRA AOS SENHORES!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O agronegócio na Bahia em nova ofensiva colonial

  Está conflagrada na Bahia a ofensiva sanguinária contra os povos que enfrentam a estrutura fundiária colonial e seus corpos são os alvos...