terça-feira, 21 de junho de 2022

Obra federal ataca Comunidades Rurais e Quilombolas de Sergipe e da Bahia

 



Desde 2019 que está em andamento um projeto de construção de uma linha de transmissão de energia elétrica de alta tensão denominada “LT 500 kv Porto Sergipe-Olindina-Sapeaçu C1 e ampliação das Subestações (SE) associadas”, e que tem como objetivo transmitir a energia produzida na termoelétrica de Porto Sergipe até Sapeaçu. Ou seja essa é uma obra de grandes proporções que atravessa os estados de Sergipe e Bahia ao cortar cerca de 25 municípios em seu trajeto. A energia que está prevista de ser transmitida nessa rede é de altíssima voltagem (500 mil volts) e traz sérios riscos e perigos por onde passa (inclusive pesquisas científicas vêm indicando graves riscos para a saúde humana, como o aumento dos casos de leucemia[1]) por conta do forte campo magnético que ela gera.


Tendo isso em vista, é que por questões de segurança regulamentou- se que nos 55 metros em torno da linha e de suas torres serão proibidas construções e uma série de atividades humanas e produtivas; bem como em um raio de 10 quilômetros (5 quilômetros de cada lado) é considerada como área que vai ser diretamente atingida pela obra tanto do ponto de vista ambiental como social.


Se somarmos isso ao fato de que o trajeto planejado pela empresa responsável atravessa diversas Comunidades Quilombolas e Rurais como as de Feira e região como Subaé, Cavaco, Gavião, Paus Altos, Vila Nova, Curral de Fora, Mussuca, Lagoa Grande, Matinha e Candeal;  vemos a gravidade desse empreendimento para a vida de centenas de famílias que serão direta e indiretamente afetadas, seja com a remoção de suas casas, ou com a perca de produtividade de suas terras que são de suma importância para a sua subsistência. Há inclusive locais em que o trajeto planejado passa muito próximo a escola ou campo de bola da comunidade.

Todo esse cenário de ataques contra o modo de existência da vida rural e quilombola, é marcado também por uma lógica racista que não hesita em degradar a vida da população preta que subsiste nesses territórios. Sabemos que obras federais como essa são em grande medida impulsionadas e direcionadas pelos interesses e necessidades do capitalismo, mas vale ressaltar que elas na prática se conformam como um modo de ataque muito bem orquestrado contra todas as formas de vida coletiva que não se alinham à lógica de dominação do Estado e do Capital.

Vemos isso explicitamente na usina de Belo Monte e em dezenas de outras obras em que o Capital dá o aval e o estímulo seja por especulação imobiliária, fundiária ou industrial, e o Estado dá uma roupagem de “legalidade” ao processo de execução da obra (por mais absurdos que ocorram), ao mesmo tempo que por força da sua violência tenta garantir que nenhuma resistência impeça o prosseguimento do desmando. A estrutura política e midiática confirmam a legitimidade de tal feito (quando muito dizendo que “é um mal necessário”) alegando “o interesse nacional” e com isso trazem a opinião pública para si, e no final das contas os alvos do ataque são aquelas populações já empobrecidas pelos processos de exclusão, como as comunidades quilombolas, povos indígenas, ribeirinhos e tantos outros que não embarcam na lógica individualista da propriedade privada que o sistema de dominação atual julga ser o único aceitável.

Tais obras são a ponta de lança desses ataques contra os povos pretos, indígenas e periféricos, e no caso da linha de transmissão LT 500 kv, desde o início dessa obra que diversas comunidades tem se levantado em luta buscando mobilizar sua gente alertando para a catástrofe que essa obra representa, e também pressionando os órgãos estatais para barrar esse processo de violência. Para maiores informações:

https://incubadorauefs.blogspot.com/2019/10/e-hora-de-mobilizacao-os-riscos.html

https://www.uefs.br/2019/10/2845/CARTA-ABERTA-Grupo-de-Trabalho-Multidisciplinar-Conflitos-Socioambientais-Conflitos-Socioambientais.html

https://blogdafeira.com.br/home/2020/09/23/a-lt-500-kv-em-feira-de-santana-e-regiao-o-impacto-dos-campos-eletromagneticos-na-vida-dos-moradores/

Essa é a lista dos municípios que serão atingidos, se você souber de alguma comunidade que possivelmente também vá ser atingida, entre em contato conosco, quanto mais nos articularmos mais força teremos na luta!



[1] https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/32086

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