sábado, 9 de março de 2024

O agronegócio na Bahia em nova ofensiva colonial


 Está conflagrada na Bahia a ofensiva sanguinária contra os povos que enfrentam a estrutura fundiária colonial e seus corpos são os alvos diretos:

04/09/22 Gustavo Silva da Conceição, Sarã Pataxó, 14 anos, foi morto no Território Indígena Comexatiba município de Prado com um tiro de fuzil na nuca.[1] 
17/01/23 Os jovens pataxós Nawir Brito de Jesus, 17 anos, e Samuel Cristiano do Amor Divino, de 25 anos, foram mortos por policial no município de Itabela, quando se dirigiam a uma ocupação de seu povo.[2]
17/08/23 Mãe Bernadete, 72 anos, é morta a tiros no quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho.[3]
21/12/23 Cacique do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe Lucas Kariri-Sapuyá, de 31 anos é morto em uma emboscada no município de Pau Brasil[4]
21/01/24 Pajé Nega Pataxó, do povo Pataxó-Hã-Hã-Hãe é morta no município de Potiraguá em ofensiva de fazendeiros da região,[5] e laudo atesta que a arma usada é de um filho de fazendeiro.[6]
  Em todos esses casos,  os mortos são aqueles que tem enfrentado a expulsão histórica dos povos indígenas de suas terras, que tem afirmado uma outra relação de ancestralidade, cuidado e preservação de suas Terras e Territórios; e os assassinos, sejam eles os mandantes ou os executores,  são os agentes do agronegócio como fazendeiros, policiais e pistoleiros contratados.
  O agronegócio na Bahia participa de 28% do PIB baiano[7], e isso em linguagem capitalista dá um indício da fatia de poder que ele possui nesse estado. Se o governo não move uma palha contra essa mortandade, se policiais se fazem de guardiões das propriedades coloniais, latifundiárias e predadoras do meio ambiente, é porque isso tudo gera e garante muito lucro; é porque a elite empresarial e política da Bahia em grande medida é composta pelo próprio agronegócio. 
  Se insurgir contra os sequestros de toda ordem que o povo preto, pobre e indígenas sofrem a séculos fere os interesses das elites que vendem a imagem da Bahia feliz do carnaval, e que com essa mesma alegria lucrativa matam quem se recusa a seguir nessa dança. Trazer a luta contra o racismo para a Terra, materializar esse combate frente a concentração de terras, ofende o pudor burguês da propriedade privada, escapa ao ordenamento jurídico que faz coro a esses privilegiados desde a primeira invasão em 1500.
  Esse lucro que o agronegócio tem trazido aos empresários e políticos baianos se dá ao custo não só dos povos, mas também de a toda biodiversidade da fauna e da flora. São as condições de vida como um todo que estão sendo desmanteladas para que o capital gerado fique nas mãos de pouquíssimas pessoas (apenas 1,4% das grandes e médias empresas do agronegócio no Brasil – que faturam mais de R$ 10 milhões por ano – foram responsáveis por 77,2% do valor comercializado pelo setor em 2022[8]).  No oeste baiano o agronegócio desmatou “51 mil campos de futebol” de vegetação nativa no cerrado entre 2015 e 2021[9], o que fez com que esse mesmo cerrado perdesse quase 2 bilhões de litros de agua por dia para a produção de soja e gado[10].  No norte, no Vale do São Franscisco, a fruticultura de exportação também tem deixado o seu rastro de destruição e exploração: ao mesmo tempo que exaure os recursos hídricos e do solo, exploram agricultores familiares, que devido a inflação e perca de condições de produção em suas próprias terras se veem empurrados a aceitar condições de trabalho degradantes em tais fazendas, que por sua vez ano a ano bate recorde de exportação de frutas que seus próprios trabalhadores não tem condições de comprar.[11]
  Parte dessas mortes descritas acima foram orquestradas pelo movimento ruralista surgido  aqui na Bahia chamado "Invasão zero",e que se já espalha em vários estados da Brasil. Esse movimento é a ponta de lança da ofensiva ruralista que promete acabar com qualquer retomada popular e tornar a expulsar os povos das ocupações de terra.[12] 
  É urgente abandonar a lógica de conciliação de classes que o PT uma vez mais tenta alastrar. Como se fosse possível chegar a um meio-termo pacífico entre aqueles que matam para lucrar e os povos que lutam por justiça, pelas suas terras ancestrais e pelo direito de viver dignamente para além das margens do lucro. Não é a criação de mais uma companhia da PM (que é a saída encontrada por Jerônimo para esse escândalo) que fará com que essa violência acabe, que os ruralistas abram mão de seu quase monopólio da terra. 
  Pelo contrário, somos nós nos articulando entre as nossas e nossos, fortalecendo os povos em seus Territórios, lutando ombro a ombro sem  a tutela do Estado ou de partidos, que conseguiremos aumentar as chances de enfrentar autonomamente essa investida assassina.
  
  Nós por nós, porque quem negocia com os assassinos, tem parte na mortandade.
   
  


O agronegócio na Bahia em nova ofensiva colonial

  Está conflagrada na Bahia a ofensiva sanguinária contra os povos que enfrentam a estrutura fundiária colonial e seus corpos são os alvos...